terça-feira, 3 de agosto de 2010

"Sim, o Deus gracioso encarnado em Jesus Cristo nos ama."



A graça é a expressão ativa deste amor. O cristão vive pela graça como filho do Abba, rejeitando por completo o Deus que pega as pessoas de surpresa ao menor sinal de fraqueza — o Deus incapaz de sorrir diante de nossos erros desajeitados, o Deus que não aceita um lugar em nossas festividades humanas, o Deus que diz "você vai pagar por isso", o Deus incapaz de compreender que crianças sempre se sujam e são distraídas, o Deus eternamente bisbilhotando à caça de pecadores.
Ao mesmo tempo, o filho do Pai rejeita o Deus de cores pastéis que promete que nunca vai chover no nosso desfile.
Um pastor que conheço lembra-se de um estudo bíblico de domingo de manhã na sua igreja em que o texto estudado era Gênesis 22. Deus ordena que Abraão tome seu filho Isaque e ofereça-o como sacrifício no monte Moriá.
Depois que o grupo leu a passagem, o pastor esboçou o pano de fundo deste período da história da salvação, mencionando inclusive a predominância do sacrifício de crianças entre os cananitas. O grupo ouvia em embaraçado silêncio.
O pastor então perguntou:
— Mas o que essa história tem a dizer para nós? Um homem de meia-idade falou.
— Vou dizer o que essa história me diz. Decidi que eu e minha família vamos procurar outra igreja.
O pastor ficou perplexo.
— O quê? Mas por quê?
— Porque — respondeu o homem — quando olho para esse Deus, o Deus de Abraão, sinto-me mais próximo do Deus verdadeiro, não esse sofisticado e escrupuloso Deus de Rotary Clube a respeito do qual ficamos tagarelando aqui nas manhãs de domingo. O Deus de Abraão era capaz de fazer um homem ir pelos ares, de dar e tomar uma criança, de pedir tudo a uma pessoa e ainda querer mais. Quero conhecer esse Deus.
O filho de Deus sabe que a vida tocada pela graça chama-o para viver numa montanha fria e exposta ao vento, não nas planícies aplainadas de uma religião sensata e de meio-termo.
Pois no coração do evangelho da graça o céu escurece, o vento ruge, um jovem sobe um outro monte Moriá em obediência ao Deus implacável que exige tudo. Ao contrário de Abraão, ele carrega nas costas uma cruz, e não lenha para o fogo... como Abraão, em obediência a um Deus selvagem e irrequieto que fará as coisas da sua forma não importe o que custe.
Esse é o Deus do evangelho da graça. Um Deus que, por amor a nós, mandou o único Filho que jamais teve embalado em nossa própria pele. Ele aprendeu a andar, tropeçou e caiu, chorou pedindo leite, transpirou sangue na noite, foi fustigado com um açoite e alvo de cusparadas, foi preso à cruz e morreu sussurrando perdão sobre todos nós.
O Deus do cristão legalista, por outro lado, é com freqüência imprevisível, errático e capaz de toda espécie de preconceito. Quando vemos Deus dessa forma sentimo-nos compelidos a nos envolvermos em alguma espécie de mágica para aplacá-lo. A adoração de domingo torna-se um seguro supersticioso contra os seus caprichos. Esse Deus espera que as pessoas sejam perfeitas e estejam em perpétuo controle de seus sentimentos e emoções. Quando gente esmagada por esse conceito de Deus acaba falhando — como inevitavelmente acontece — ela em geral espera punição. Ela por isso persevera em práticas religiosas ao mesmo tempo em que luta para manter uma imagem oca de um eu perfeito. A luta em si é exaustiva. Os legalistas nunca são capazes de viver à altura das expectativas que projetam em Deus.
Uma mulher casada de Atlanta, com dois filhos pequenos, disse-me recentemente que estava certa de que Deus estava desapontado com ela por não estar "fazendo nada" por ele. Ela contou-me que sentia-se chamada para participar de um ministério de assistência que oferecia um "sopão", mas hesitava em deixar os seus filhos aos cuidados de outra pessoa. Ela ficou chocada quando eu lhe disse que o chamado não provinha de Deus mas do seu próprio e arraigado legalismo. Ser uma boa mãe não bastava para ela. No julgamento dela, também não bastava para Deus.
De modo semelhante, uma pessoa que pensa em Deus como um canhão à solta lançando panfletos aleatórios para nos informar sobre quem está no comando irá tornar-se temerosa, egoísta e provavelmente inflexível em suas expectativas a respeito dos outros. Se o seu Deus é uma força cósmica e impessoal, sua religião será necessariamente evasiva e vaga. A imagem de Deus como um brutamontes onipotente que não tolera qualquer intervenção humana cria um estilo de vida rígido governado por leis puritanas e dominadas pelo medo.
Mas a confiança no Deus que ama de forma consistente produz fielmente discípulos livres e confiantes. Um Deus amoroso fomenta um povo amoroso. "O fato de que nossa visão de Deus molda nossa vida em grande parte pode ser uma das razões pelas quais a Escritura atribui tanta importância a buscar conhecê-lo."
( Brennan Manning - " O Evangelho Maltrapilho " )

Um comentário:

  1. "O amor de Deus vai alem dos pecados e dos defeitos, na esperanca que, em algum momento, todas a pessas acabem sabendo quanto foram amadas." Wayne Jacobsen

    Paz! E muita graca!!!

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